quinta-feira, 12 de abril de 2007

Todo motociclista, por mais experiente, tem sempre o que aprender com estradas sinuosas e trilhas de terra. Essa foi a constatação minha e do Gilson Wander depois de passar o feriadão da Semana Santa (de 5 a 8/4/2007) viajando em duas XT660 pelo Caminho dos Diamantes (parte inicial da Estrada Real) e pela Serra do Cipó, em Minas Gerais. Pilotamos 1.998 km, sendo 195 km por estradas não-pavimentadas, mergulhados em um cenário exuberante composto por montanhas, penhascos, cachoeiras, rios e matas densas. Foi uma experiência radical, recheada de 4 tombos e um dedo quebrado. Minha moto tombou no chão 3 vezes e a do Gilson 1, sem qualquer dano material. Cair na terra geralmente não machuca a máquina.  Quebrei a ponta do dedo anular esquerdo num acidente bobo, quando limpava a moto. Uma pancadinha aparentemente leve numa lata de óleo de corrente que havia esquecido junto com a roupa de chuva fez o estrago. Quando fui espanar a poeira do assento com a mão... Pimba!!! O dedo inchou e roxeou rapidamente. Tive que pilotar quase 800 km com dores e latejamento.




DE BRASÍLIA A DIAMANTINA:
quinta-feira, 5 de abril de 2007 - 743 km rodados
Nossa estória começa numa quinta-feira, dia 5 de abril, quando saímos de Brasília, às 6 h da matina, em direção a Diamantina (MG). Foram exatos 743 km de deslocamento com muitas paradas para fotos. Abastecemos em Cristalina, João Pinheiro e Felixlândia, almoçamos peixe em Três Marias, às margens do Velho Chico, e chegamos ao nosso destino por volta das 16 h. Muitos automóveis e caminhões na rodovia, particularmente nas proximidades das cidades maiores. Parece que o caos aéreo registrado recentemente nos aeroportos do País aumentou mesmo o número de pessoas viajando de carro.
A viagem ganha cenário especial a partir de Curvelo (MG). A rodovia (BR 259), sem acostamento, é ladeada por densa vegetação, que vez por outra cria túneis de árvores sobre nossas cabeças. Curvas de graus variados surgem continuamente por cerca de 125 km. O GPS mostra variação abrupta de altitude. Em poucos minutos saímos dos 550 m nas imediações de Curvelo e chegamos aos 1.370 m das montanhas que circundam Diamantina. Um friozinho gostoso, típico das regiões mais altas, aumenta o prazer de conduzir as motocicletas.
Tive que parar na concessionária da Yamaha em Curvelo para repor o parafuso que prende o velocímetro, que havia caído pelo caminho. Não tinham o parafuso original, mas encontraram um que servia em uma loja de ferragens ao lado. Coisas da Yamaha. Eu já havia passado por experiência parecida em Brasília, quando também perdi um dos parafusos que segura a bolha. Tive que encomendar a peça na concessionária Saga. Depois de 3 meses esperando, desisti! Fui obrigado a fazer um quebra-galho com um parafuso parecido, que logo enferrujou. A Yamaha ainda não conseguiu se organizar para oferecer atendimento de qualidade aos seus clientes.
Em Diamantina, hospedamo-nos na pousada “Caminho dos Escravos”. Aproveitamos o finalzinho da tarde para passear pelo centro histórico da cidade e tirar fotografias. As ruas íngremes e o piso de pedra dão estilo próprio à cidade. Ao anoitecer, sentamos em um restaurante, próximo à Catedral, que havia colocado mesas na rua (ao estilo parisiense), e ficamos por lá bebericando cerveja com tira-gosto. Era grande o número de turistas trafegando pelas ruas. Dormimos cedo, aproveitando o cansaço da viagem.


Na estrada

Três Marias - MG

Três Marias - Rio S. Francisco

Três Marias - Rio S. Francisco
BIRIBIRI, MILHO VERDE E SERRO:
sexta-feira, dia 6 de abril de 2007
A sexta-feira santa despontou exuberante. O céu limpo e extremamente azul trouxe calor e sol forte logo nas primeiras horas da manhã. Fizemos o desjejum bem cedo e às 7:30 h subimos nas motos para conhecer as cercanias de Diamantina, particularmente o Parque do Biribiri, S. Gonçalo do Rio das Pedras, Milho Verde e Serro. Ficamos impressionados com a limpeza das ruas e o zelo com o patrimônio histórico em todas as cidadelas e vilas por onde passamos. Todas elas, sem exceção, possuem charme e beleza típica das construções dos períodos colonial e imperial.
Pegamos uma estrada de terra e fomos primeiro para Biribiri. Rios, cachoeiras, rochas e montanhas ladeiam todo o percurso, construindo um cenário paradisíaco para nosso deleite. Nadamos na cachoeira dos Cristais antes de adentrarmos a Vila do Biribiri, construída em derredor de uma antiga fábrica de tecidos - atualmente fechada e tombada pelo patrimônio histórico mineiro. Lá, embaixo daquele calor, foi inevitável sentar no único barzinho do local e tomar uma cerveja gelada acompanhada de isca de peixe e linguiça.
Bem antes do meio-dia pegamos nova trilha de terra em direção da cidade do Milho Verde. O trecho estava em condições super precárias, com muito cascalho solto, costelas e sulcos abertos pelas chuvas recentes. Subidas íngremes e descidas abismais trouxeram mais emoção à aventura. Muitos carros dividiam conosco o espaço mínimo daquela pista estreita e mal-acabada. Fizemos uma breve parada 8 km antes, em S. Gonçalo do Rio das Pedras, empoeirados até a alma. Sentamos num restaurante cheio de turistas aventureiros que, como nós, reclamavam das péssimas condições da estrada. Descansamos um pouco e continuamos o caminho para Milho Verde, um vilarejo construído em 1781 para conter o contrabando de diamantes na região. Outro lugar maravilhoso! Almoçamos em um restaurante local e atacamos um "prato-feito" de bacalhau a R$ 7,00 por pessoa. Passeamos pelos arredores em direção às muitas cachoeiras e regatos tortuosos da localidade. Gilson não perdeu a chance de mergulhar para lavar o pó da estrada. Eu tomei um banho tcheco e molhei as canelas.
Depois de usufruir as águas geladas do Milho Verde, subimos novamente nas motos em direção ao Serro. Nesse trecho de 21 km a estrada de terra melhora um pouco, mas o número de carros aumenta.
Chegamos na cidade do Serro por volta das 15 h, onde testemunhamos mais um exemplo vivo de bom-trato com o patrimônio histórico. A arquitetura das igrejas, escadarias e prédios é de encher os olhos. As praças e locais públicos são ajardinados e repletos de palmeiras. Os restaurantes locais, apinhados de gente, montaram mesas pelas praças, proporcionando agradável ambiente de lazer e de encontros.
Não havia vaga em nenhuma das pousadas do Serro, de Conceição do Mato Dentro e Serra do Cipó (nossos próximos destinos) e, por conta disso, retornamos para Diamantina no final da tarde, onde tínhamos hospedagem garantida.
À noite, o centro histórico de Diamantina estava lotado. Iria acontecer a representação católica do calvário de Cristo e a área circunvizinha à Catedral estava tomada pela população. Difícil foi conseguir um restaurante aberto. Todo o comércio da cidade, com raras exceções, fechou as portas durante o evento. Conseguimos encontrar uma única pizzaria aberta e lá providenciamos o jantar. Estávamos exaustos. Apesar de não termos trafegado por grandes distâncias, passamos o dia expostos ao calor e ao sol, pilotando a maior parte do tempo. Fomos dormir por volta das 20 h.







Diamantina - MG

Diamantina - MG

Diamantina - MG

Diamantina - M

DE DIAMANTINA A CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO: sábado, dia 7 de abril de 2007
Logo pela manhã do Sábado de Aleluia refizemos o trajeto para o Serro, o mesmos 86 km do dia anterior. Lá pegamos outra estrada de terra que nos levaria até Conceição do Mato Dentro. Neste trecho de 61 km, a pista, embora não-pavimentada, estava em bom estado. Existe linha regular de ônibus entre uma cidade e outra. Nas outras estradas de terra onde estivemos seria impossível esse tipo de serviço, porque um ônibus não teria condições de trafegar pelos trechos mal-acabados que acabáramos de conhecer.
Passamos rápido por Conceição. Nossa intenção era visitar a cachoeira do Tabuleiro (a mais alta de Minas), que nos obrigaria a andar mais 20 km por trilhas de terra (só de ida). Iniciamos o trajeto sem perda de tempo por volta das 9 h da manhã. Seguimos tranquilos até o distrito de Tabuleiro, onde tem início uma subida extremamente íngreme em direção à cachoeira. Foi por ali que fraturei o dedo da mão, quando tirava a poeira acumulada na moto. Tentamos chegar à famosa cachoeira trafegando por uma pista estreita, com muito cascalho solto e grossas camadas de pó na maioria das curvas, que se assemelhavam a balcões de areia. Grande número de automóveis tentava subir a ladeira simultaneamente conosco e, por conta deles, aconteceu o que não prevíamos. A maioria dos veículos que ia à nossa frente não conseguiu avançar no trecho montanhoso. As rodas patinavam no cascalho e na poeira, e apenas alguns conseguiram passar adiante. Automóveis com tração dianteira geralmente não aguentam esta subida e não há como contornar. São obrigados a descerem de ré, montanha abaixo. E nós lá, colados na traseira dos carros, tendo que abrir espaço para eles.
Tivemos que estacionar as motos na lateral da pista em terreno acidentado e montanhoso, para abrir caminho para os carros, em condições muito desfavoráveis ao equilíbrio. Colocar as motos onde colocamos não foi difícil, mas tirá-las de lá sem ajuda se configurou missão impossível. Pedimos socorro a 3 turistas que subiam a ribanceira a pé. Eles nos ajudaram a empurrar as motocicletas para trás, fazendo uma vai-e-vem  no pequeno espaço que tínhamos, de modo a embicá-las morro abaixo. Mesmo com a ajuda de 3, foi difícil subir na moto. Gilson levou um tombo nesta tentativa. Eu consegui descer com certa cautela, desviando de outros carros que faziam fila para tentar subir o morro (os motoristas desses carros não sabiam das dificuldades de sobrepor os trechos mais altos). Tive uma queda logo abaixo, quando um playboy veio acelerando forte um Ford Ka no sentido contrário. Passou por mim chispando, com seu veículo patinando no cascalho de um lado para outro e jogando pedra para tudo quanto é lado. Deixou um espaço mínimo para eu passar com a moto. Nesse espaço havia um sulco na terra, oriundo de alguma enxurrada, e foi exatamente ali que a roda dianteira da minha moto entrou, me jogando no chão. Vale mencionar que é praticamente impossível erguer sozinho a XT no cascalho, após uma queda. Não fosse o Gilson por perto para me ajudar nesta empreitada, a moto ficaria lá no chão, bem no meio do tráfego de veículos.
Eu e Gilson ficamos p. da vida com essa situação e desistimos de ir à cachoeira do Tabuleiro. Dane-se! Não é possível a convivência de automóveis e motocicletas nesses trechos íngremes. A disputa é desonesta!  Pegamos de volta o caminho para Conceição do Mato Dentro. Paramos no primeiro posto que vimos pela frente. Oba! Lá tinha lava-jato. Compramos umas latas de cerveja e ficamos esperando o motor esfriar. Lavamos as motos e pegamos o asfalto para a Serra do Cipó. Abandonamos o Caminho dos Diamantes e seguimos para Almeida e Jaboticatubas, onde cachoeiras fantásticas nos esperavam.












NA SERRA DO CIPÓ:
O trajeto de 100 km entre Conceição do Mato Dentro e a Serra do Cipó é dos mais perigosos. Curvas fechadíssimas, ladeadas por despenhadeiros, são comuns em diversos trechos. A estrada não possui acostamento e são poucos os pontos de ultrapassagem. O asfalto, contudo, estava impecável. O cenário era inacreditavelmente belo. Montanhas e penhascos nos convidavam a parar constantemente para tirar fotos.
A Serra do Cipó estava apinhada de turistas. Não existiam vagas em nenhuma das pousadas ou campings da região. Almoçamos em Almeida e, logo em seguida, tentamos chegar à cachoeira Véu de Noiva, mas a entrada estava fechada por causa do excesso de gente. Rumamos para a cachoeira Grande. Lá apreciamos uma das mais belas quedas d’água do Estado mineiro. Belezas à parte, é aviltante o valor cobrado por cada visitinha aos muitos pontos turísticos da Serra. R$ 10,00 por pessoa em cada parada. Se bobear, gastam-se centenas de reais em uma única tarde de passeio.
Estávamos preocupados com nossa hospedagem e decidimos seguir Sete Lagoas no mesmo dia. Tínhamos trazido barracas de camping, mas não havia local disponível para acampar. Tínhamos dinheiro para pagar um bom hotel, mas não havia vagas. Depois de breve passeio turístico pelas redondezas, fomos para Sete Lagoas através de Baldim e Jequitibá, no intuito de evitar o congestionamento em Belo Horizonte (que seria o caminho mais curto).
Lá chegando, rumamos para o Real Hotel, onde tenho hábito de me hospedar quando viajo com a família. Após demorado banho, fomos a pé para um restaurante nas proximidades, onde providenciamos farto jantar regado a cerveja e a Seleta. Enquanto jantávamos, desabou um temporal monstro. Dormimos por volta das 22 h, já pensando na viagem de volta a Brasília, a ser realizada no dia seguinte. Meu dedo quebrado latejou a noite inteira. Custei a dormir por causa das dores.




















VOLTANDO PARA CASA:
Domingo, dia 8 de abril de 2007
Não houve novidades dignas de menção no caminho de volta. A BR 040 já se tornou lugar comum para mim. Não contávamos pegar chuvas pelo caminho. Porém, nas proximidades de Cristalina o tempo fechou de vez. Sequer nos preocupamos em colocar a roupa de chuva. Encaramos o temporal de peito aberto. O aguaceiro nos acompanhou por cerca de 60 km e, nas imediações de Luziânia, o sol reapareceu.
Paramos por volta das 16 h no posto da polícia rodoviária, na entrada de Brasília, para nos despedir. Tiramos a última foto e cada um foi para sua respectiva casa. Encerramos ali a breve viagem de 1.998 km em 4 dias. A experiência revelou-se um pouquinho cansativa, porque pilotamos todos os dias por longos períodos, sob forte calor. Um sentimento de realização, típico das aventuras motociclísticas, nos acompanhou de volta para casa. Viajar de moto, para nós, sempre será um prazer indescritível!




3 comentários:

Anônimo disse...

legau e meu sonho. quatas silindrada eu poso farzer esta viaje

VIAGENS DE MOTOCICLETA disse...

Qualquer moto off road será excelente para este trajeto: Lander, XRE300, XT e outras.

Joao disse...

Show de bola a viagem. Desejo fazer o trajeto todo de Ouro Preto à Paraty. Bom saber que a Lander dá conta do recado.
Um forte abraço!